Diziam os antigos que uma mulher grávida está em estado de graça. Esta expressão provavelmente se deve à magia que envolve conceber outro ser humano. Com certeza este é um período de muitas alegrias e, no entanto, também é cheio de mudanças. Vem carregado de muita expectativa e ansiedade.
Podemos pensar nas modificações psicológicas do período gravídico em função das mudanças hormonais (que são intensas). Aqui nesta coluna, irei me ater à parte subjetiva da gestante. Com certeza é uma tarefa e tanto gestar um bebê. Gestar não é somente um processo físico, de acolher no ventre o bebê que cresce: o bebê também tem de ser gerado na cabeça da mãe. Mas como assim?
Na medida em que se recebe a notícia da gravidez, inicia o processo de imaginar o bebê. Como será? Do que gostará? Como será seu nome? Será parecido com quem? O psiquismo da gestante se volta para constituir o chamado bebê imaginário. Muitas pessoas notam certa desatenção, uma sensação de estar “com a cabeça na lua“, digamos assim. Isso se deve ao fato de a cabeça se voltar para dentro da barriga e para as transformações corporais, que também contemplam o nenê se mexendo dentro da barriga.
Por vezes, ao imaginar o bebê podem surgir dificuldades, já que os medos também fazem parte da gestação. Ainda que se veja o bebê através de ecografias, não temos certeza de como será. Não somente no âmbito físico, mas também em relação ao temperamento, capacidades, semelhanças. Tolerar o não saber, suportar a espera e ter esperança de que o melhor está por vir são as tarefas que perduram toda gestação.
Pensar que tipo de mãe deseja ser também é uma empreitada deste momento. Neste quesito vem à mente toda a vivência da maternagem no lugar de filha, para então se apropriar do lugar de mãe. Na medida em que se organizam as coisas para o bebê, já vai sendo possível desenhar como será a função materna. O que se quer passar para o filho, como deseja cuidar, quais valores transmitir, o que não quer passar adiante… E assim vai nascendo uma mãe.
Eventualmente a ansiedade pode se tornar muito alta e algumas sessões com um psicólogo podem “desintoxicar” o campo para a chegada do bebê. É possível pensarmos em um pré-natal psicológico! Por que não?! Assim como a grávida deve estar com a saúde física em dia, é importante estar com a mente tranquila para acolher o bebê que está por vir e para poder curtir a barriga.
Diante de tantas demandas, que se encontrem as melhores saídas. Que os medos e desacomodações deem lugar para o amor genuíno ao bebê que se desenvolve diariamente. A vida pede passagem!
Débora Laks é psicóloga graduada pela PUCRS (CRP 07/15330) com experiência em atendimento de adultos, pais-bebês e infantil. Estuda a psicanálise e o psiquismo humano. Especializada em Psicoterapia de Orientação Psicanalítica de Adultos pelo CELG/UFRGS e Psicoterapia da Infância e Adolescência pelo CEAPIA.
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