E se a decoração for educativa? | Por: Cíntia Del Pino, arquiteta

Você já parou para pensar no significado da palavra decoração? Então vamos lá: um dos significados de decoração é “a arte de ornamentar, ou seja tornar um ambiente belo e agradável”. Penso que isso é relativo, pois o que é bonito e agradável para mim pode não ser para o outro.

Daí tem outro significado que diz: “Composição de um ambiente de modo a fazer com que seus elementos estejam harmonicamente dispostos”. Este significado já faz mais sentido para mim, pois em geral a harmonia faz bem a todos, tanto em ambientes quanto na música ou na culinária.

Mas o significado que realmente acho espetacular é: “Arte de memorizar, de fixar na memória”. É sobre isso que quero conversar com vocês nessa coluna.

A decoração pode ser forte aliada na educação e na preparação das crianças para a vida. Considerando que o primeiro espaço físico que elas vão habitar é o dormitório será que estamos dando o devido valor para o conteúdo que essa ornamentação vai agregar ou estamos focados apenas na aparência que ela terá?

Pensando nisso sugiro algumas reflexões antes de fazermos os projetos para esses ambientes:

Sabemos que o processo de desenvolvimento infantil das crianças acontece do nascimento até os seis anos e que é nesse período que elas passam a desenvolver habilidades variadas que vão lhes garantir a autossuficiência em outras etapas da vida. Durante esse período é natural que as crianças indiquem, por meio de comportamentos, a fase em que se encontram e é justamente para contribuir com essas etapas de vida que a decoração deve ser concebida.

Os principais tipos de desenvolvimento infantil são:

1. FÍSICA: relaciona-se às habilidades físicas como engatinhar, ficar em pé, dar os primeiros passos, escrever, desenhar, dançar…

2. COGNITIVO: refere-se à capacidade de processamento de informações, englobando processos mentais como pensar, raciocinar, falar, compreender a linguagem, resolver problemas e outros.

3. SOCIAL: é quando a criança consegue começar a trocar informações com outras pessoas e passa a aprender as normas sociais.

4. AFETIVO: refere-se às emoções da criança, sendo que esse tipo de desenvolvimento acontece desde os primeiros dias de vida.

Como então podemos utilizar a decoração, ou seja, a arte de memorizar para auxiliar no desenvolvimento infantil?

Para as fases iniciais podemos pensar em projetos que estimulem o desenvolvimento da autonomia e liberdade das crianças, ficando atentos à segurança, por ser uma fase onde principalmente a tendência é levar objetos a boca. A ideia é utilizar móveis e objetos na altura da criança para que ela se sinta à vontade para explorar o espaço.

À medida em que vão crescendo podemos setorizar o espaço estimulando a organização. Bancada de estudo com iluminação adequada para que as leituras fiquem agradáveis, cabides para arejar as roupas usadas evitando que fiquem atiradas em cima da cama ou mesmo pelo chão, prateleiras ou nichos para livros, lixeiras para criar o hábito do descarte correto do lixo…

Quando já estão na fase escolar vale lembrar de incluir na decoração objetos que remetam aos temas que estejam sendo estudados. Mapa múndi, seja adesivado na parede ou no globo mesmo, além de educativo é um lindo objeto decorativo, símbolos que ensinem meninos e meninas sobre as leis de trânsito, poesias ou trechos de obras literárias em quadrinhos, almofadas, frases ou palavras que remetam a positividade e ao amor pela vida…

E, claro, trazer a natureza para dentro dos dormitórios por meio de vasinhos com plantas, por exemplo, auxilia a formar o hábito do cuidado com outro ser vivo além de estimular o contato direto com o meio ambiente.

Enfim, são muitas as alternativas para tornarmos os dormitórios infantis verdadeiros espaços para autoeducação.
Sugiro a todos que comecem a fazer pequenas transformações nesses ambientes. Muito em breve os resultados serão percebidos, podem apostar! Na sua casa, como é? Conta pra mim, vou adorar saber.

Um beijo e até o mês que vem!

Cintia Del Pino é formada em Arquitetura pela Uniritter.
Trabalha em diversas áreas da Arquitetura desenvolvendo projetos arquitetônicos.
Despertou para o universo dos projetos para dormitórios infanto-juvenis
após o nascimento de sua filha Clarissa em 2007. 

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