Dia das Crianças: por que devemos respeitar mais o tempo da infância | Por: Débora Laks, psicóloga

A defesa pela Primeira Infância tem ocupado um lugar de destaque na mídia. Estudos demonstram que os cuidados dos 0 aos 6 anos de idade são fundamentais para um futuro saudável. Na coluna de hoje, quero destacar a atenção para todo o período infantil, já que temos apenas aproximadamente onze anos para nos experimentarmos brincando e desenvolvendo nosso eu da forma mais rica possível.

Neste Dia das Crianças, levanto a bandeira em defesa do tempo de ser criança! Justamente por ser notável como a infância tem sido atropelada. Atropelada por um excesso de atividades. Atropelada pelo medo de não dar tempo da criança desenvolver habilidades como inglês, informática, natação etc. Atropelada pela exigência de bom comportamento a todo o momento. Por que isso está ocorrendo?

Estamos vivendo na pós-modernidade tempos de excesso de informação, o que pode gerar muita angústia. Zygmunt Bauman, renomado sociólogo polonês, desenvolveu toda uma teoria em relação aos comportamentos líquidos (rápidos e fluidos) dos nossos tempos. Descreveu assim: “Os tempos são líquidos porque, assim como a água, tudo muda muito rapidamente. Na sociedade contemporânea, nada é feito para durar”. O autor usava o termo “líquido” em oposição à solidez de outros tempos, quando os processos, a sociedade e os relacionamentos eram menos mutáveis e, portanto, duráveis, sólidos.

Se os tempos são líquidos e nada é durável, como nós, pais, podemos tolerar o porvir da infância? A sensação de obsolescência pode trazer repercussões a nossa forma de interagir com as crianças. A incerteza do futuro talvez esteja nos fazendo acelerar o tempo – se é que isto é possível. E a insegurança pode impedir que muitos adultos vivam o presente. Conseqüentemente, acabamos por viver um ritmo apressado.

Cabe a pergunta: afinal, qual a importância do respeito ao infantil? Talvez uma das maiores tarefas da vida seja nos constituirmos indivíduos únicos e humanos. Tornar-se uma pessoa inteira, capaz de tolerar as adversidades do cotidiano e com uma riqueza imaginativa eficiente para compreender o que está nas entrelinhas das experiências vividas. A infância é um lugar onde desenvolvemos nossa subjetividade, encaramos os medos, nos tornamos separados dos nossos pais e desenvolvemos as primeiras relações intimas, modelo para os vínculos na vida adulta. Todas estas tarefas lhes parecem pouca coisa?

Lá vai aquele corpinho miúdo encarar o mundo! Enfrentar este desafio de humanizar-se, de compreender o seu mundo interno e a realidade externa. Através de simples brincadeiras vai elaborando o que se passa entre o real e o imaginário. Como nos disse o psicanalista britânico Winnicott: “É a brincadeira que é universal, e que é própria da saúde; o brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde; o brincar conduz aos relacionamentos grupais; o brincar pode ser uma forma de comunicação…”. Respeito a toda esta missão é o mínimo que podemos dispor para nossos pequenos. Certamente bases seguras – sólidas – no início da vida sempre trarão melhores horizontes. Vivemos a pós-modernidade, a velocidade, mas ainda precisamos de tempo!

Um beijo com carinho e até o mês que vem!

Débora Laks é psicóloga graduada pela PUCRS (CRP 07/15330) com experiência em atendimento de adultos, pais-bebês e infantil. Estuda a psicanálise e o psiquismo humano. Especializada em Psicoterapia de Orientação Psicanalítica de Adultos pelo CELG/UFRGS e Psicoterapia da Infância e Adolescência pelo CEAPIA. 

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